O câncer de mama é o mais frequente em mulheres em idade reprodutiva. Portanto, mesmo diante do impacto de um diagnóstico como esse, é importante que médicos e pacientes, se preocupem, também, com a preservação da fertilidade, pois mais de 10% dos casos ocorrem em mulheres com idade inferior a 45 anos, muitas delas ainda sem filhos. Com a maternidade frequentemente adiada em função do trabalho, dos estudos e de outras prioridades, não é incomum que nos deparemos com essa situação.
A precaução se justifica porque o tratamento do câncer de mama pode exigir o uso de quimioterapia e determinados quimioterápicos agridem o ovário da mulher, causando uma perda da função ovariana que pode ser temporária ou definitiva. Neste caso, a paciente desenvolve um quadro de menopausa, pois não tem mais óvulos, o que a impede de engravidar, espontaneamente, após a cura do câncer. Cerca de 80% das pacientes que realizam a quimioterapia para câncer de mama tem risco de desenvolver amenorréia (parada da menstruação) e, muitas vezes, esse quadro pode ser irreversível.
A oncofertilidade é um tema relativamente novo, que visa orientar as pacientes quanto às possibilidades de criopreservação dos óvulos, possibilitando uma gravidez futura e garantindo a qualidade de vida e o direito a maternidade após a cura do câncer.
O congelamento de óvulos é uma técnica já bem estabelecida clinicamente, e, hoje, as taxas de gravidez utilizando-se óvulos congelados para a realização de uma Fertilização in vitro são semelhantes àquelas utilizando-se óvulos a fresco.
Entre as técnicas mais recentes, em estudo, está o congelamento de tecido ovariano. Esta técnica pode ser uma alternativa, por exemplo, para as mulheres com câncer de mama que não podem ser submetidas a estimulação da ovulação para posterior coleta dos óvulos, pelo risco que este procedimento pode oferecer, ou por não ter tempo hábil para realizá-lo antes da quimioterapia. Esta técnica também é utilizada para a criança com câncer, e para a menina pré-pubere, nas quais não é possível a estimulação da ovulação para posterior obtenção de óvulos.
Neste procedimento, experimental, retira-se um fragmento do ovário, congelando-o. Mais tarde ele é reimplantado, quando a paciente estiver curada. O tecido ovariano reimplantado tanto pode voltar a produzir óvulos naturalmente, quanto pode ser necessária a estimulação da ovulação para posterior coleta de óvulos e fertilização ‘in vitro’.
As pesquisas tem avançado e já há casos publicados de gestação com este recurso, mas ainda não com resultados definitivos, não podendo ser indicado como tratamento clínico, mantendo-o como “experimental”.
Tanto óvulos como tecido ovariano podem ser descartados se não forem utilizados, sem que questões éticas estejam envolvidas.
O congelamento de embriões é uma outra opção para a preservação da fertilidade em pacientes com câncer e apresenta excelentes resultados, com taxas de gravidez semelhantes as taxas obtidas com embriões a frescos. Entretanto, este procedimento envolve questões éticas e legais, já que há regras específicas quanto ao destino de embriões congelados que não são utilizados. Qualquer decisão necessita aprovação da mãe e do pai.
Outro recurso em estudo é o uso de um medicamento, análogo de GnRH, que tenta manter os ovários em repouso durante a quimioterapia. Mas os resultados ainda são conflitantes. Esta seria uma solução excelente, já que não precisaria ser associada a nenhum procedimento. Apenas o uso do medicamento, que não interfere no câncer, e com custo muito menor.
O importante é frisar que a paciente com diagnóstico de câncer, uma vez curada, ainda pode ser mãe. Mesmo que tenha sua capacidade de engravidar ou gestar comprometida pela doença pode, a partir do congelamento de embriões ou óvulos, realizado previamente, realizar o sonho de ser mãe. Com a precocidade dos diagnósticos de câncer atualmente e também com as excelentes chances de cura cada vez mais frequentes, algumas perguntas são fundamentais, mesmo diante do terrível momento do diagnóstico: vou precisar me preocupar com a minha fertilidade? A quimioterapia pode comprometer meus ovários? Além de questionar se em determinados cânceres é possível usar hormônios ou se vai dar tempo de realizar a indução da ovulação e coleta dos óvulos para congelamento, antes do início da quimioterapia.
No momento estressante de qualquer diagnóstico de câncer, a preservação da fertilidade pode até parecer secundária, mas é preciso orientar a paciente sobre os recursos existentes, pois ela poderá se beneficiar muito dessas técnicas quando for curado e quiser ter uma família ou ampliá-la.