Nas últimas décadas, o adiamento da experiência da maternidade vem se tornando uma tendência em muitos lugares do mundo. A necessidade de capacitação profissional ou acadêmica, o desejo de viajar, realizar outros projetos são alguns dos motivos que têm levado as mulheres a postergar o sonho de se tornarem mães. A despeito das potenciais vantagens inerentes a uma gravidez tardia, como a estabilidade financeira do casal e a possibilidade de uma melhor programação da gestação, o que muitas mulheres não sabem é que a idade é um dos fatores que exerce maior impacto sobre a fertilidade feminina.
O declínio das taxas de gravidez com o avançar da idade deve-se, principalmente, à redução da quantidade e da qualidade dos óvulos. O feto feminino na 20a semana de gestação possui cerca de 6 a 7 milhões de óvulos. Ao nascimento, este número cai para 1 a 2 milhões e, a partir daí, a quantidade de óvulos continua diminuindo progressivamente. À ocasião da puberdade, restam em torno de 300.000 a 500.000 óvulos, dos quais aproximadamente 400 serão ovulados durante os anos da menacme, até que a reserva ovariana chegue ao fim, o que ocorre, em média, aos 50 anos. Do ponto de vista clínico, as taxas de gravidez já começam a sofrer uma redução após os 32 anos de idade, o que se torna ainda mais significativo após os 37. Aos 45 anos, a chance de engravidar naturalmente é quase nula.
Além da redução fisiológica do número de óvulos, a qualidade dos mesmos também sofre uma significativa queda ao longo do tempo, e o risco de aneuploidias (alterações genéticas) e abortamentos espontâneos torna-secada vez mais elevado. Ademais, com o passar dos anos, a incidência de doenças como miomatose uterina, alterações tubárias e endometriose também se torna maior, podendo interferir ainda mais nas chances de se alcançar a gravidez.
O declínio da fertilidade relacionado à idade é, portanto, um fenômeno natural e inexorável. Até mesmo para as pacientes que se submetem à Fertilização in Vitro (FIV), a idade feminina parece ser um dos principais fatores prognósticos na obtenção de sucesso no tratamento, independentemente da causa de infertilidade. Para mulheres acima de 43 anos, as taxas de gravidez após FIV com os próprios óvulos é bastante reduzida, e o tratamento de escolha passa a ser a ovodoação. Importante lembrar, todavia, que, uma vez grávida, a paciente com idade avançada poderá ter um risco maior de evoluir com algumas complicações obstétricas, como hipertensão e diabetes gestacionais, prematuridade, trabalho de parto disfuncional e prolongado, e realização de cesariana.
Desta forma, importantes entidades na área médica, como o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a American Society for Reproductive Medicine (ASRM) preconizamque todas as pacientes que desejam engravidar tenham amplo acesso a informação e sejam aconselhadas quanto ao impacto da idade sobre a fertilidade. Além disso, também recomendam que mulheres acima de 35 anos devam ser avaliadas após 6 meses de tentativas para engravidar ou até antes, caso haja indicação clínica como, por exemplo, cirurgia ovariana prévia, quimioterapia, história familiar de menopausa precoce, endometriose severa, infecção pélvica prévia entre outros. Em mulheres acima de 40 anos, deve-se garantir avaliação e tratamento imediatos.
Referências:
- American College of Obstetricians and Gynecologists Committee on Gynecologic Practice and Practice Committee. Female age-related fertility decline. Committee Opinion No. 589. FertilSteril. 2014 Mar;101(3):633-4.
- Bretherick KL et al. Fertility and aging: do reproductive-aged Canadian women know what they need to know? Fertil Steril. 2010 May 1;93(7):2162-8.